25.7.11

Renda se...

A chuva prendeu-a em casa como sonho de mãe aflita que revela ao filho um presságio ao acordar. Não é para sair! Revisou sua lista de afazeres inundada por aquela manhã chorosa. Abandonou o pijama e vestiu sua mortalha: Ficara em casa navegando no silêncio funesto de um dia de chuva. Ninguém reclamaria. Despedir-se do dia era para muitos um alívio: Sem preocupações, sem dúvidas, sem imaginações, para ela, a morte, um dia a menos de existência!

Caminhou descalça até a cozinha. Preferia assim, pés no chão. Preparou um café quente e amargo que lhe desceu fácil como a água que lavava o vidro da janela. Se manter acordada era a vingança perfeita àquele dia. Ainda com o corpo quente pelo passeio que o café lhe proporcionara, jogou-se na cama como tarrafa lançada ao mar afundando sob os lençóis desarrumados.

Confinada, a chuva respirava o que ela respirava, se alimentava do mesmo alimento... torpor, mas seus pensamentos... a chuva não o invadiria. Virou em direção a pilha de livros espalhados sobre sua cama, verdadeiros travesseiros em que repousava horas a fio... e se entregou a leitura, talvez a fuga perfeita para aquela manhã nefasta. Não se renderia, pensou. Abriu um livro, fechou outro, suas leituras variavam conforme o humor. O chão subitamente os acolheu. Pegou seu bloco de anotações, apontou o lápis...saiu de si mesma.

Alice Nascimento

Alice em um dia de chuva

3 comentários:

  1. Um dia feliz, escritora....Me encanta quando venho aqui...
    Paz e bem

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  2. Deve haver sido uma linda chuva :)

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  3. Obrigada meus queridos... ando ausente, mas em breve volto a visitá-los. Obrigada pelo carinho.

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