31.10.11

Dia sem cor

O cinza invadiu o fim daquela manhã girassol enquanto as nuvens abatidas abraçavam-se, quando o falecimento do pai de um amigo havia sido anunciado. Os ventos pararam por alguns instantes. Não havia sabor no prato, sorriso no rosto, e embora eu nem o conhecesse, era tão familiar sua feição que nos abraçamos e choramos juntas, eu, e as nuvens, naquela tarde desbotada.

 (da notícia do falecimento)


Alice Nascimento




23.10.11

Rabiscos - Noites claras

Noite em...fim... Sonhos serão colhidos enquanto a alma repousar num piscar de estrelas...



14.10.11

Espinho

Embalava um rosário noite e dia como uma criança ao colo, pétala por pétala, conta por conta, e logo o esquecia quando sua língua se tornava cúmplice de suas crucificações. Assim eram as Marias, Joanas, Beltranas e Fulanas, daquela cidade, bairro, rua, casa, que rezavam a Deus e desprezavam a humanidade.

Alice Nascimento


11.10.11

Vida em uma Lauda - Olhar furtivo

Foi naquela praça que eles se reencontraram diante da penumbra de lampiões emoldurados por casarões que se desenhava um clima de torpor sob o olhar lascivo da Lua. Esta, timidamente surgia atrás dos telhados com a mesma curiosidade de quem espia através da fechadura, o proibido.

Bastou apenas que suas mãos timidamente se roçassem para que suas almas se desprendessem e se enroscassem encostados naquelas paredes úmidas do tempo e de suor que destilava dos amantes daquele lugar. O querosene queimado produzia uma fumaça que pintava o ar da negritude do céu fechando as cortinas do palco para os amantes ofuscassem o beijo que ele ousaria dar, enquanto o reboco abatido, pela pressão que os corpos ali exerciam, temperasse a pele de barro, marcas de desejos incontidos... Dali, seria possível tocar as estrelas.

As pedras de cantaria entoaram canções diante do salto agulha dela que perfurava o coração dele, aparentemente tão impenetrável quanto o mármore que se rendia naquele instante... O frio do mármore contrapondo-se ao o calor do lampião. Por alguns instantes ela compreendeu que aquele fogo logo se evadiria com o fim do querosene, assim são as paixões, pavios tão curtos, diferentemente da pedra sob seus pés ali posta que permaneceria intacta, embora desgastada pelos séculos de existência.

Respirou fundo. Abriu os olhos e parou de dançar aquela música envolvente... não queria apenas o lampião, embora este iluminasse e a embriagava com seu pretume, queria as escadarias, os becos, as ruas... 

O sopro da maresia voltou a embalar o seu corpo temperando-o ainda mais até o amanhecer, quando os lampiões foram apagados pelo amor que renasceu por detrás daquelas águas.

Alice Nascimento

Foto Alice, por detrás daquelas águas, em um dia qualquer.



10.10.11

Rabiscos - Pulsante


Foto Alina - Canadá




" O nada é um vazio pulsante
 para se pensar no tudo"

Alice Nascimento