11.10.11

Vida em uma Lauda - Olhar furtivo

Foi naquela praça que eles se reencontraram diante da penumbra de lampiões emoldurados por casarões que se desenhava um clima de torpor sob o olhar lascivo da Lua. Esta, timidamente surgia atrás dos telhados com a mesma curiosidade de quem espia através da fechadura, o proibido.

Bastou apenas que suas mãos timidamente se roçassem para que suas almas se desprendessem e se enroscassem encostados naquelas paredes úmidas do tempo e de suor que destilava dos amantes daquele lugar. O querosene queimado produzia uma fumaça que pintava o ar da negritude do céu fechando as cortinas do palco para os amantes ofuscassem o beijo que ele ousaria dar, enquanto o reboco abatido, pela pressão que os corpos ali exerciam, temperasse a pele de barro, marcas de desejos incontidos... Dali, seria possível tocar as estrelas.

As pedras de cantaria entoaram canções diante do salto agulha dela que perfurava o coração dele, aparentemente tão impenetrável quanto o mármore que se rendia naquele instante... O frio do mármore contrapondo-se ao o calor do lampião. Por alguns instantes ela compreendeu que aquele fogo logo se evadiria com o fim do querosene, assim são as paixões, pavios tão curtos, diferentemente da pedra sob seus pés ali posta que permaneceria intacta, embora desgastada pelos séculos de existência.

Respirou fundo. Abriu os olhos e parou de dançar aquela música envolvente... não queria apenas o lampião, embora este iluminasse e a embriagava com seu pretume, queria as escadarias, os becos, as ruas... 

O sopro da maresia voltou a embalar o seu corpo temperando-o ainda mais até o amanhecer, quando os lampiões foram apagados pelo amor que renasceu por detrás daquelas águas.

Alice Nascimento

Foto Alice, por detrás daquelas águas, em um dia qualquer.



2 comentários:

  1. Querida amiga

    Há palavras
    tão lindas,
    que nos fazem
    imaginar a cena,
    e desejar vivê-la...

    Que a luz da vida
    esteja sempre em teu olhar.

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  2. Aluisio,

    Obrigada por tuas palavras!
    nosso olhar sensível e imaginação é capaz de criar bela cena!

    abraço

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