2.4.11

Isabel

Adulta, fui apresentada a Isabel nas madrugadas de insônia. Jamais conceberia que me conquistaria a ponto de fazer parte dos meus dias, da minha vida para sempre, talvez porque seu contato me conduzisse a um mundo paralelo alucinógeno em imaginação e encantamento. Com Isabel, imagens da infância povoavam minha memória: sorrisos, descobertas, incertezas. Tudo tão doce e tão ácido.

Lembro-me criança, no bairro do São Francisco em que as diversões sempre rendiam sabores, e entre elas a mais suculenta de todas: as azeitonas roxas. Naquela época havia árvores frutíferas no quintal. Pequenas ou grandes, casas sempre acomodavam frutos, sombras e divertimento. Alegravam o ambiente pintando o céu e o chão de verde... eram verdadeiras gangorras que sustentavam em seus galhos crianças aventureiras! Mas, quem hoje consegue, no seu quintal, ver crescer uma árvore e sorve-lhe os frutos?

Não há mais folhas a se desprender das copas ávidas por nutrir a terra para uma nova germinação, o cimentado abortou qualquer esperança: é o método contraceptivo mais desumano de impedir que sementes fecundem a terra. O presente furtando o passado... Não acho mais as azeitonas roxas.

Ao final da tarde, cansadas, repousavam em uma bacia e eram despertadas por mãos ávidas de desejo. Doces, azedas, verdes, maduras, passadas...a aventura de colhê-las as igualavam...deliciosas azeitonas! Êxtase era o estado mais puro e humano que a coloração violeta deixava na língua. Talvez seja por isso que a palavra “roxo”, em certas expressões, denote intensidade. Sim, ficava ROXA de felicidade!

Isabel poderia ser uma azeitona roxa, se não fosse uma uva! “Uva Isabel”... de fato, alucinógena. Tão rara quanto a azeitona, mas tão presente como as recordações. Deliciar-se dessa uva roxa, doce e ácida, é reviver momentos eternizados.

Quintal da casa da Tia Nadir, em Pastos Bons-MA

4 comentários:

  1. Oi Lika...o saudosismo...esse vive aqui comigo também, lmbro sabe de que? De um pé de amora na casa de um tio...ficavamos com a lingua grená...rs
    Hoje ainda se acha por aqui, mas não tanto quanto na infância
    A blusa ficava toda suja...vermelha...a mãe ficava roxa...de raiva...rs
    Obrigado pela presença lá no Verseiro
    Um abraço na alma...beijo
    bom fim de semana pra vocês aí...

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  2. Olá Alice,
    Como as recordações são benéficas a nossa alma!
    Gostei de sua forma de escrever,vou ficando por aqui e lendo mais,
    Boas energias,paz,saúde!
    Mari

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  3. Mari, seja bem vinda e obrigada pelas palavras, estou me reencontrando aos poucos com a escrita!

    Élcio... coisa boa é infância, mas as recordações, tenho impressão que são melhores ainda!
    Grande abraço a todos!

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  4. Muito bacana...
    E Elcio a amora era na nosa casa no bairro matadouto..
    Se bem que acho que a gene mudou-se de lá antes de vc nascer...

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