5.4.11

Guignol

A reencontrava todos os dias. Anos itinerantes de existência mórbida em miséria e falsas promessas. Peregrina de corpos, mutante em sentimentos febris. Pele marcada do tempo e de frases duras de uma vida refugiada na sobrevivência da qual fora obrigada a viver, expelida órfã em um mundo que não pediu. Filhos? Frutos de ocasiões, cada um de um homem, qualquer um, tanto faz, no fim todos vão embora. Proteção? Só de Deus se é que algum dia olhou para aquela criatura. Trabalho? Árduo, qualquer coisa, ou nenhuma coisa. A vida a mastigava enquanto ela engolia a fome e se nutria de esperança... Prazer? só o da carne mitigado em mentiras, única verdade que conhecia... Dias melhores? Nem a chuva trazia mais, inundava o que lhe restava. Dignidade? Nunca conheceu, nem sabia o que era, assim como Direitos, só Cidadania quando aprendeu a escrever seu nome e se viu obrigada a votar manipulada por frases que lhe soavam bem aos ouvidos.  E ela continuava ali... um mamulengo humano nesse teatro de horror, por todos os lugares, todos os bairros, todas as ruas, todas as cidades em todo o mundo...subvivendo.

Alice Nascimento

Foto: Gilson Camargo

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